Para o turismo de aventura brasileiro, os Lençóis Maranhenses podem ser considerados um ponto de convergência, no meio do caminho entre a região amazônica, de um lado, e o Delta do Parnaíba e Jericoacoara, no Piauí e Ceará, do outro. São mais de 150 mil hectares só no parque nacional que há na área, com 70 quilômetros de praias.As dunas e lagoas formam uma paisagem única no mundo, que já foi definida como "miragem", "surreal" e "extraterrestre", de acordo com as expectativas dos viajantes e suas tentativas de descrever o impacto. "Miragem" tem a ver com o desejo de encontrar um oásis depois do cansaço de caminhar pelas montanhas de areia, com a vantagem de que ali ela é real: as piscinas de fato existem. "Surreal" seria um bode tocando violino antes de ir para a panela virar buchada com leite de coco. E a definição "extraterrestre" sintetiza a impressão do lugar não ser deste planeta. Os Lençóis Maranhenses ficariam na Lua, por exemplo, como no filme "Casa de Areia", do diretor Andrucha Waddington, gravado na região.Os pacotes de viagens com veículos especiais e passeios de barco podem ser contratados completos desde a partida em cidades de outros Estados, ou separadamente, por dia, em agências instaladas em São Luís, capital do Maranhão, e Barreirinhas, já na região dos Lençóis.
Nos Lençóis, chove cinco ou seis vezes mais do que a média em regiões desérticas. O índice pluviométrico chega a 1.600 mm por ano. A partir da orla marítima, ao norte, a força dos ventos faz as dunas se arrastarem por 50 km rumo ao interior. E a força das chuvas faz cair tanta água durante meses que ainda sobram bilhões de litros, nem evaporados nem absorvidos pela areias, para formar as piscinas naturais que são a grande atração do local.A mobilidade faz parte da aventura. Existem lagoas que desaparecem de setembro a março. E como as dunas carregadas pela ventania, também as casas de palha de buriti dos moradores e a infra-estrutura turística podem ser móveis nos Lençóis Maranhenses. Muitos telefones de contato são celulares, e os sites saem do ar com freqüência. Meca recente do lazer num dos Estados mais pobres do país, de pior renda per capita e altos índices de analfabetismo, não por acaso os Lençóis ficaram escondidos por muitas décadas da atenção nacional e estrangeira. A sobrevivência básica, com água, leite, peixe e farinha, toma boa parte do tempo dos nativos. Até estrada decente é novidade, e luz elétrica também, fazendo crer que o poder público mora em outro planeta. E pouca gente ia acreditar na descrição do tesouro terráqueo: parece caminhar na poeira da lua, com água morna para relaxar.Barreirinhas ou Santo Amaro do Maranhão?Ainda na década de 90, quando as dunas com piscinas mal começavam a surgir nas revistas de turismo, era difícil chegar a Barreirinhas desde a capital do Maranhão, São Luís. A rodovia era tão precária que o percurso de 250 km podia demorar oito horas, e as agências sugeriam viajar de avião bimotor. Com a MA-402 recuperada, Barreirinhas se desenvolveu com hotéis, pousadas e restaurantes, e continua sendo a principal porta de acesso ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Recentemente, por conta da produção cinematográfica "Casa de Areia", que tem Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Seu Jorge e Luiz Melodia como os casais protagonistas, a cidade passou a dividir as atenções dos turistas com a vizinha Santo Amaro do Maranhão, onde a equipe e os atores se instalaram por várias semanas para realizar o filme.Barreirinhas tem o rio Preguiças para bares com trapiche e passeios formidáveis, que dão acesso às dunas, aos vilarejos de pescadores e artesãos e ao mar, vizinho de Caburé e Atins. Chegar a Santo Amaro por estrada de areia é um sufoco, mesmo em veículos com tração. Ambas as cidades disponibilizam a aventura das dunas em altas voltagens, com infra-estrutura de alimentação, banho de chuveiro e descanso na volta. E muito mais, às vezes: um resort com mais de 150 quartos em Barreirinhas anuncia até "fitness center", na hipótese de algum hóspede conseguir mexer as pernas e o pescoço depois de caminhar por centenas de metros na areia escaldante.
Percorrer os Lençóis requer esforço físico e cuidados com a saúde. Quem vai, porém, vê vantagens, entre elas a do êxtase do contato com a água morna e cristalina das imensas lagoas, formadas entre as dunas com a água das chuvas do primeiro semestre de cada ano.Para quem se aventura, é importante levar a sério as recomendações dos guias: usar sandálias de borracha em vez de tênis; proteger a cabeça com chapéus, bonés e lenços e o corpo com protetor solar, eventualmente com mangas compridas e cangas até as canelas; usar óculos e retirar as lentes de contato, se possível; carregar água, sucos em caixinha, frutas e biscoitos na mochila, porque o esforço pede reposição de calorias; proteger as câmeras com plástico, já que a areia chega por todos os lados. Óculos de natação e binóculos aprimoram as sensações da beleza do lugar.Os guias são fundamentais, em qualquer situação, para caminhadas curtas ou longas. Sozinho, há risco de se perder, porque os ventos apagam as pegadas na areia e não sobressaem pontos de referência no horizonte. Para as montanhas de areia branca que parecem intransponíveis, os guias providenciam cordas. Aceite a ajuda: lugares inóspitos como estes fornecem lições de humildade a quem pretende desbravá-los.
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